domingo, 21 de abril de 2024

músicas

meus pensamentos vêm e vão 

como se duma partitura, saltassem melodias

ouvi uma música ontem e lembrei de ti, minha pequena

vi crianças correndo e não aguentei as lágrimas 

cantei a música

como aquela vez que dançamos em frente a tv da sala 

cada nota musical que me faz pensar em ti é uma lágrima a mais no meu potinho de saudade

que já transbordou

e virou um mar de saudade

que vem e vai como as ondas

num dia de ressaca

parece que vai tranquilizar

mas é mar revolto

meus olhos não te esquecem

meu abraço não te esquece

as músicas me fazem nunca te esquecer

era uma vez...

sexta-feira, 19 de abril de 2024

comidas

não gosto de nata no leite, quando está quente

não gosto do restinho de café no fundo da xícara, quando está frio 

não gosto de banana, da textura, do cheiro, do gosto, 

mas gosto de banana frita 

tem gosto de casa de vó

e minha vó também não gosta de banana

gosto de sopas, de letrinhas, de legumes, de cappelletti (que eu nunca sei quantas letras repetidas têm, então eu repito todas)

minha mãe adora sopa de feijão com macarrão, eu também 

gosto de ovo mexido doce, que a mãe fazia pra nós 3 quando éramos minúsculos 

não gosto de cheiro de ovo que fica no copo, de quando estou comendo ovo

não gostava de sushi, comi a primeira vez quando eu devia ter uns 8 anos, numa festa do trabalho do meu pai, mas lembro que me senti chique comendo

aprendi a gostar de sushi depois da terceira ou quarta vez que comi, 

mas se eu ultrapasso o limite de peças que consigo comer (que são poucas), tenho ânsia de vômito 

adoro o cozido cheio de legumes e verduras de quando chega o frio,

também tem gosto de casa de vó 

apesar de também ter gosto de casa de vó, eu não gosto de bolos enfeitados com chantilly e outros ingredientes que eu nem sei descrever

não sei desde quando eu comecei a ser uma pessoa "do salgado" e não "do doce"

na minha cabeça é desde sempre,

mas tem um doce que tem gosto de mãe que eu adoro: rabanada

talvez porque seja feito de pão e eu adoro pão 

eu adoro massas e lasanha me lembra meus irmãos 

gosto também de macarrão com frango ensopado, que me lembra outra fase marcante da minha vida, aos domingos 

pizza me lembra minha tia e tooooodos meus primos, porque eu adorava o verão na pizzaria da tia "gringa" 

picolé me faz lembrar de toda a primarada reunida na sorveteria da vó, durante o verão, depois de ter vindo da praia da nossa "competição de bodyboard", mas era só um pra cada um

eu também adoro ervas e temperos

tomilho me lembra meu pai, talvez porque seja um tempero bastante utilizado em carnes,

mas eu uso em quase tudo

do alecrim, eu amo o cheiro, não tanto o gosto

de açafrão, eu gosto misturado com outras especiarias formando o curry,

que me lembra uma amiga e de sua receita de frango com abacaxi em cubos, ao curry e leite de coco, 

parece estranho, mas é uma delícia

inclusive, abacaxi e coco me lembra minha avó e meu pai, que um dia caiu na besteira de dizer que gostava de bolo de abacaxi com coco e ela fez em todos os aniversários dele pelos próximos anos durante um bom tempo

ah! e nessa de traumas, chuchu me lembra minha outra vó, que não sabia que eu não gostava, e mandou um monte de chuchu na minha marmita da escolinha de quando eu era pequena

e meu avô, coitado, que teve que cuidar sozinho de 3 irmãos (no caso eu e os meus) e queimou o arroz, enquanto a gente gritava pedindo pra ir à praia e perguntando quando a mãe e o pai voltavam

das frutas, eu adoro uva, congelada ou no vinho, que me lembra meu padrinho, que hoje em dia até faz vinhos e são maravilhosos!

carambola eu também adoro, me lembra minha madrinha, 

num dia quando eu era bem pequena, nós viajamos pra um lugar bem longe cheio de carambolas que era a casa de uma tia dela

lembro pouco de todo o resto, lembro só das carambolas

maçã, a mais básica das frutas, é a que eu mais gosto, prática, saborosa, não precisa nem descascar... me faz lembrar da minha prima, que, na versão maçã descascada, faz uma cuca maravilhosa de maçã 

das comidas, das lembranças e dos abraços, eu gosto de pensar que vou me construindo e me refazendo

com os novos-velhos cheiros

cheiros de tomilho

de alecrim

de canela

de açafrão 

cheiros que são absorvidos

e percorrem todo meu ser

me fortalecem

me acalmam

me transformam

cheiros que sempre estiveram ali

que retornam

e que permanecem.

domingo, 14 de abril de 2024

mais um domingo

um dia chuvoso acompanha meu tédio 
eu redescubro essa sensação 
me vejo em um contexto novo, velho conhecido
me vejo no vazio, que já não machuca tanto
vejo a luz fraca em frente ao sofá 
penso nesse aconchego do silêncio 
esse aconchego que voltou depois de tanto tempo 
o silêncio tem barulho de chuva
tem barulho do suspiro do gato
tem barulho de carros passando na rua
o silêncio é uma noite escura 
mas também é um dia cinza
a velocidade dos dias da semana escorrem pelas gotas da chuva de hoje, paralisando o tempo
paralisando todos meus pensamentos angustiantes
talvez os céus tenham escutado minha mente e pensado 'o silêncio da chuva vai te libertar'
e mandaram logo uma tempestade, vários dias de chuva
porque é tanto barulho na minha mente que só assim pra abafar
os domingos não me assustam mais
eu sou uma boa companhia pra mim.

domingo, 7 de abril de 2024

os domingos me destroem

todas as dores vêm numa avalanche

eu sento no sofá e ele diminuiu

não cabem mais 3 pessoas

eu me esparramo nele

com toda a minha solidão 

com toda a minha saudade

sinto claustrofobia de estar aqui

sufocada com meu vazio

o mundo parece tão grande

e eu me perdi completamente 

abandonei o que existia

fiquei só com o inexistente 

com o inesperado 

com o vazio, com o eco

as cores do céu parecem doloridas

azuis acinzentados

um tempo embaçado

como meus olhos 

um futuro incerto

de um passado incompleto

de uma vida não vivida

fecho os olhos e ouço uma melodia triste

tenho medo. muito medo.

sacadas

pontes de conexão com o mundo
lugar pra respirar
pra olhar o céu 
pra chorar
pra desejar
pra conversar com o universo
pra suspirar e lembrar
aqui não tem sacadas
tem janelas com redes
que parecem grades
que me deixam presa
presa num passado que me arrasta
que não me deixa respirar
nem conversar com o universo
por vezes precisei correr 
sair porta afora 
pra poder absorver um pouco 
do ar da rua
e tentar lembrar de quem eu sou.

terça-feira, 2 de abril de 2024

preciso comprar lâmpadas

como saber se ainda é amor?

como viver todos os dias pensando em ti?

como continuar seguindo em frente se olho sempre pra trás?

teria como ser mais difícil?

eu sei que na tua mente eu irei por onde tu fores

e tu sabes que tu também vai me acompanhar

como seria uma vida sem ter te conhecido?

eu penso todo dia que eu não queria conhecer essa vida

mas eu também queria outra vida

talvez eu tenha criado uma ideia na minha cabeça

talvez a ideia seja quem tu és

e talvez eu também seja apenas uma ideia

mas essas ideias iluminaram nossos caminhos por um tempo

e agora os caminhos estão na penumbra

como eu vou conseguir seguir em frente, se tudo que eu vejo é escuridão?

como eu vou encontrar meu caminho, se agora eu vivo na sombra?

quando eu vou ter uma ideia pra iluminar o meu próprio caminho?

a lâmpada do corredor queimou.

quarta-feira, 20 de março de 2024

karukasy

 descobri que aquele sentimento que tenho nos fins de tarde tem um nome específico em tupi. karukasy.
mas ainda não sei o nome pra sensação de que tu ainda vai chegar em casa.
não sei o nome do sentimento da confusão que tem dentro do meu peito, quando eu te digo não.
não sei o nome que se dá pro vazio que eu sinto por saber que a coisa certa é a que dói.
às vezes, eu penso que é saudade.
às vezes, eu penso que é tristeza.
mas eu acho mesmo que a angústia de não saber o nome faz parte do processo que me destroça por dentro.
talvez se eu descobrir é porque não importa mais.

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virei metáfora 


ontem, a casa era grande

eu cabia sempre nos mesmos lugares: 

sentada no mesmo lugar do sofá, 

deitada no mesmo lugar da cama

eu não sentava, 

ou deitava, 

ou ficava em pé 

em outros lugares, 

não tinha espaço 

hoje, a casa diminuiu 

ficou pequenina

mas agora tem mais espaço

e, curiosamente, 

eu me expandi

abro as portas e caminho 

por todos os cômodos, 

eu caibo em todos eles

nesse paradoxo de poder 

se expandir num 

espaço pequeno...

agora, 

eu me sinto a casa.